O autor e ilustrador de banda desenhada, João Amaral, esteve
connosco no dia 4 de fevereiro, para apresentar uma das suas mais recentes
obras, A Viagem do Elefante. Trata-se
de uma adaptação para BD do romance de José Saramago, com o mesmo nome e
prefaciada por Pilar del Rio. A palestra foi seguida de uma sessão de
autógrafos: João Amaral recriou, ao vivo, o elefante Salomão e a todos desejou
“uma boa Viagem”.
Segue-se
a entrevista que João Amaral concedeu a Rúben Pinto, nosso aluno do 7.º B, e
membro do Clube de BD/Manga da BE.
R.: – “Que livros de BD lia, quando tinha
a nossa idade?”
J.A:
- Eu gostava muito dos autores franceses, como Rob Vel (Robert Velter, criador
da famosa personagem Spirou) e do belga André Franquin (autor de outra
personagem muito conhecida, o Marsupilami).
R.: - E já escrevia e desenhava, nessa
época?
J.A.:
- Sim, mas francamente, não gosto desses desenhos quando os revejo, estão muito
imperfeitos. Mas sempre quis ser ilustrador de banda desenhada. A minha
formação académica é em Marketing, mas prefiro a arte. A minha máquina
fotográfica é um caderno, nele desenho o que penso e o que vejo.
R.: Por que razão quis desenhar “ A
Viagem do Elefante”?
J.A.
: - É um livro que significa muito para mim. Foi a minha mulher, que é uma
leitora compulsiva, que me aconselhou a lê-lo e comecei logo a visualizar as
imagens na minha cabeça! Relata, como
sabem, a viagem de um elefante indiano, Salomão, que foi oferecido pelo rei português, D. João III, ao seu primo
arquiduque Maximiliano da Áustria, de Lisboa a Valladolid e depois a Viena. Eu
procurei conhecer pessoalmente esse primeiro trajeto para melhor retratar a paisagem.
Trata-se, no fundo de uma parábola sobre a própria vida, que é uma
viagem, nascemos para caminhar, caminhar e depois a caminhada acaba, morremos.
Fazemos um percurso, um caminho contínuo de aprendizagem, como o Cornaca, mas
que, um dia, acaba.
Foi
um trabalho difícil, pois quis ser fiel ao texto de José Saramago, ao espírito
da obra. Demorou cerca de dois anos e meio, a trabalhar oito horas por dia…
Criei cerca de 120 pranchas, foi preciso passá-las a tinta, fazer as legendas,
colorir as pranchas no computador (é mais higiénico e a minha mulher aprova!)
…Resolver situações que foram aparecendo, a banda desenhada é uma arte
sequencial... A cor vai mudando ao longo do livro, primeiro, em Portugal é azulada, em Espanha predominam
tons mais quentes, em Itália é mais esverdeada e nos Alpes o branco domina tudo…
No
livro original, José Saramago não aparece de nenhuma forma, no meu livro José
Saramago aparece também como a personagem que narra a viagem. Foi uma forma de
aproximar o criador da criação e fazer sobressair a fina ironia de Saramago.
(Rúben Pinto e Eunice Pinho
Clube BD/Manga da BE )